Progressão do COVID-19 em Portugal

AVISO: Não sou epidemiologista, nem sequer na TV. Fui fazendo estas análises para me tentar manter informado e perceber o que estava a acontecer. Fiz este post a pedido de várias pessoas com quem partilhei os resultados e queriam uma versão partilhável.

(Última atualização a 24 de abril de 2020 às 13:44)

Pegando nos dados da DGS é possível acompanhar a situação em Portugal de forma diária. As análises todas são feitas a partir de 2 de março, data dos primeiros casos confirmados em Portugal. A figura 1 inclui tanto os casos totais como as mortes ocorridas até ao momento. A escala é logarítmica o que quer dizer que quando o crescimento é uma reta, na realidade é exponencial.

Evolução de casos de COVID-19 em Portugal
Figura 1: Evolução de casos de COVID-19 em Portugal

Para além da linha dos casos reais estão aqui mais quatro linhas orientadoras:

  • Crescimento exponencial da doença a 55% por dia. Esta era a taxa de crescimento inicial e aparentemente é o que tende a acontecer durante bastante tempo quando o contágio avança sem quaisquer medidas de contenção. Esta curva está limitada a um milhão de casos porque em algum momento a doença fica saturada na população e não tem mais a quem infetar. Não usei o total dos 10 milhões de pessoas na população porque se sabe que há muitos casos sem sintomas que não são detetados. Para isso usei um fator de 1 para 10 com base em algumas comparações básicas com outros países que testam de forma muito mais extensiva a população (e.g., Alemanha e Coreia do Sul).
  • Crescimento médio observado nos países Europeus. Aqui peguei na redução da taxa de crescimento diária das infeções que tem acontecido nos países da Europa e usei para projetar na nossa curva. Funcionou bem durante algum tempo e depois tivemos um crescimento mais forte de repente.
  • Previsões de mortalidade com base na curva de progressão média da Europa. Estas curvas são só a anterior, multiplicada por 10 para ter os casos totais mesmo que sem sintomas, multiplicada por 1% e 5% que parecem ser os limites mínimos e máximos razoáveis da taxa de mortalidade com o sistema de saúde a funcionar bem ou mal.

Todas as curvas servem apenas de referência para leitura no gráfico. Não são elas próprias previsões. Algumas conclusões que retiro:

  • De 12 a 17 de março tivemos ou uma falha relevante na capacidade de contenção da doença ou uma maior cobertura dos testes que encontraram mais casos. Desde aí conseguimos voltar a ter a progressão em linha com os restantes países Europeus.
  • A mortalidade no início parece alta mas isso é natural dado que os pacientes mais frágeis vão morrer mais rápido do que os mais resistentes.
  • Sem fazer medidas de contenção muito relevantes vamos pelo caminho da Espanha e Itália e ter situações catastróficas nos sistemas de saúde. Estamos por volta de três semanas atrás da Itália e duas da Espanha.

Tentei depois perceber em mais detalhe como está a evoluir a doença. Para isso olhei para a taxa de crescimento de novos casos. A figura 2 tem esses dados, bem como duas curvas aproximadas que podem explicar a evolução. A taxa é calculada dividindo o número de novos de casos do dia, pelos casos do dia anterior subtraídos do número de recuperados. Reflete portanto quantos casos novos é que os casos ainda ativos estão a gerar.

Taxa de crescimento de casos de COVID-19 em Portugal
Figura 2: Taxa de crescimento de casos de COVID-19 em Portugal

Aqui podemos ver notícias animadoras. Dá ideia que estamos a conseguir reduzir a taxa de crescimento de forma bastante consistente. As medidas que têm vindo a ser aplicadas parecem estar a ter efeito. Se continuarmos na tendência mais rápida chegaremos ao pico da infeção por volta de dia 6 de abril. Se a tendência abrandar por as medidas começarem a ter resultados incrementais menores será provável só chegarmos ao pico no fim do mês de abril ou início de maio. Isto parece bater certo com as estimativas do governo, que indica 9 a 14 de abril para o pico.

Para conseguirmos cumprir esta tendência positiva é muito importante o contributo de todos. São extremamente importantes as medidas de tele-trabalho, distanciamento social e higiene respiratória (lavar mãos, não tocar na cara, tossir para o cotovelo). Se não fizermos todos isto vamos levar o sistema de saúde ao colapso e morrerá muita gente de forma totalmente desnecessária. Precisamos de ganhar tempo para que sejam desenvolvidos tratamentos e idealmente uma vacina.